"MINHA HISTÓRIA
No dia 06 de dezembro de 2013, às
19:00 horas, na cidade de Campo Grande/MS, concretizei o meu grande sonho
profissional: tornei-me Promotor de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul!
Sem dúvida um dos momentos mais marcantes da minha vida, em que a fantasia e a
realidade se enlaçaram em perfeita harmonia. Tudo aquilo que almejara ao longo
de anos estava diante de meus olhos, como um sonho que simplesmente não se
permite terminar. Aqueles que olhavam para mim naquele momento mágico talvez
jamais pudessem imaginar o quão árdua foi a caminhada até ali (à exceção, é
claro, daqueles que estiveram e continuam ao meu lado até hoje).
Serei breve, porque descer à
minúcias importaria em um longo texto que, por razões óbvias, não é o propósito
do presente editorial. Pois bem, em janeiro de 2009 foi a minha formatura de
conclusão do curso de Direito na UNIFESO (turma 2º semestre/2007). Tinha a
consciência da importância daquele grande passo, mas sabia que era preciso ir
muito além para conseguir uma colocação profissional. Logo no início da
graduação vim transferido de outra Universidade. No meio do curso já havia
tomado uma decisão: tornarme-ia Defensor, Promotor ou Juiz. Concluída a
faculdade, um novo mundo se descortinava, e era preciso ir em busca do meu
objetivo. Logrei ser aprovado no Exame de Ingresso na Escola da Magistratura -
2009 (EMERJ), e nos três anos seguintes estive empenhado em me dedicar aos
estudos no prédio anexo do TJRJ. No final de 2009 prestei o concurso de
Defensor Público do Estado de Alagoas, e fui aprovado nas vagas excedentes.
A notícia era de que todos os
aprovados seriam nomeados, e em breve. Ledo engano: o concurso se arrastou por
longos 5 anos (algumas coisas na vida só se tornam compreensíveis muito tempo
depois).
Durante o curso da Escola da
Magistratura tive a oportunidade de prestar outros concursos: alguns bons
resultados, mas nenhuma aprovação, à exceção da prova de juiz leigo, que
evidentemente não correspondia às minhas expectativas profissionais, inobstante
fosse uma oportunidade de aprendizado e um fôlego financeiro para prosseguir
com os estudos. A pressão só aumentava, aliás, ela é, diga-se de passagem,
pressuposto lógico e necessário da vida de qualquer concurseiro.
Em 2010 me dediquei intensamente
à preparação para o concurso de Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro
(havia sido estagiário e tinha/tenho grande apreço pela instituição). Passei na
1ª fase com a nota 56,5. Ótimo resultado. Estava entre as 60 melhores notas de
um universo de pouco menos de 300 aprovados, cujo certame contava com cerca de
6 mil inscritos.
Estava muito confiante de que
chegara a minha hora. Enganei-me novamente.
A prova específica de direito
civil veio bastante difícil, mas dentro do esperado. Tinha conhecimento das
questões, mas quando era para dar tudo certo, deu tudo errado. Estava na cara
que a peça era uma apelação, mas talvez por estar bitolado demais com os
estudos, e influenciado por uma aula de véspera num cursinho, optei por fazer
embargos de terceiro preventivo heterotópico. Viagem total. Peça zerada, e um
grande tombo.
Restou-me assumir o cargo de juiz
leigo, marcado por um momento de profunda estafa dos estudos. Fui lotado no JEC
Santa Cruz, onde tive o prazer de muito aprender. Era agosto para setembro de
2010. E dali até junho/julho de 2011, abandonei os estudos. Não tinha vontade
nem
motivação para estudar. Ganhava
um bolsa módica mas que supria minhas necessidades (o aperto financeiro antes
era grande, já que onerava significamente meus pais, que, aliás, sempre me
apoiaram incondicionalmente, e se hoje estou onde estou é graças a eles!).
Em junho/julho de 2011 comecei a
tentar retomar os estudos. Alguns amigos estavam firmes na vida do concurso, e
tentei ir no embalo deles. No final de 2011 me inscrevi para o concurso de
Delegado de Polícia de Minas Gerais, e após lograr aprovação na 1ª fase do
concurso voltei a tomar gosto pelos estudos. A partir daí comecei a me
inscrever em alguns certames para a Magistratura e Ministério Público. No final
de 2012 já havia sido aprovado nas específicas, prova oral, e psicotécnico do concurso
de Delegado de MG.
Restavam apenas a prova física
(fase pro forma porque, salvo engano, ninguém reprovou) e o curso de formação
de três meses em Belo Horizonte.
Estava entre a cruz e a espada. A
coisa estava apertada no exercício da função de juiz leigo. Tinha pouco menos
de dois anos de garantia de que continuaria vinculado ao Tribunal de Justiça
(só é permitido exercer a função de juiz leigo por 2 anos, prorrogável uma
única vez). Aliás, o Tribunal só estava arrochando nossa vida: mais trabalho e menos
$$$. De outro lado tinha a possibilidade de ingressar numa carreira estável,
com status, e para ganhar mais que o triplo do que ganhava, muito embora não
tivesse vocação para o exercício da missão policial. Nunca havia desejado isso
(embora seja uma carreira almejada por muitos). Era, em suma, um acidente de
percurso. Decidi abandonar o concurso de Delegado por minha conta e risco, e
seguir na temporária e incerta função de juiz leigo. Muitos acharam loucura.
Mas nesse momento já havia readquirido o ritmo dos estudos, e estava começando
a obter bons resultados nos concursos que realmente desejava: “MP” ou “Magis” (nesse
momento tinha os três anos de prática jurídica e já me inclinava pelo
Ministério Público, inclusive me adaptando melhor às suas provas). Era lá que
eu sonhava chegar. Nem preciso dizer que esse período foi tenso, mas hoje olho
para trás e tenho a certeza de que valeu a pena me jogar nesse arriscado
caminho. Como diz aquele sábio e velho ditado: “Deus escreve certo por linhas
tortas”.
O ano de 2013 foi intenso:
algumas segundas fases, muitas viagens com os camaradas de concurso, e uma
certeza: minha hora enfim havia chegado!
Logrei ser aprovado no concurso
de Promotor de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul, onde fui abraçado por
um povo bastante acolhedor, Estado esse no qual me sinto absolutamente
realizado por exercer este importante mister. Tive, ainda, a satisfação de
alcançar aprovação para a fase oral do concurso de Promotor de Justiça do
Estado do Espírito Santo (cuja prova até hoje não se realizou).
Ahhh, lembram daquele concurso da Defensoria de
Alagoas?! Pois é, alguns meses depois de iniciar meus passos no MPMS, estou
numa convocação em Campo Grande quando recebo uma ligação de uma colega que
residia em Recife/PE e também estava aprovada naquele certame. Queria saber se
eu tinha interesse em assumir o cargo de Defensor, pois o Governador estava na iminência
de nomear os remanescentes...!
Fiquei feliz com a notícia;
lembrei-me da angústia e da expectativa que aquele concurso me proporcionara,
além do fantasma do “será que ainda passo em outro concurso?!”. Felizmente pude
dizer não, embora tivesse desejado muito no passado ter vivido a experiência de
ser Defensor naquele Estado. Não era para ser. Realizei-me por ter me tornado
Promotor de Justiça. Aliás, encontrei-me na profissão, que o grande Professor e
Procurador de Justiça do Estado de São Paulo Edilson Mougenot Bonfim qualifica
como sendo “um sacerdócio”. E mais: sinto-me agraciado por morar no MS, um
estado pouco conhecido, em franco crescimento e de grandes belezas naturais.
Após um ano já me sinto adaptado
às suas peculiaridades locais.
Concluindo, peço perdão ao leitor
por ter me alongado bem além do que propusera no início. Mas são tantas
experiências vividas ao longo dessa longa jornada que torna difícil, senão
impossível ser breve e sucinto. Tentei sê-lo, e oculto desse relato muitas
histórias que vivi. Mas não posso finalizar sem registrar a minha profunda
gratidão a Deus por ter me trazido até aqui, e ter permitido viver “desertos”
que foram fundamentais para alcançar a “terra prometida”. Agradeço aos meus
pais pelo amor e apoio incondicional. À minha irmã e cunhado pela parceria. A
minha esposa e companheira por fazer parte dessa história sempre estando ao meu
lado. E por fim, a todos os meus familiares e amigos que estiveram e estão
comigo nessa jornada fascinante que é a caminhada da vida!
Não posso deixar de registrar
também a minha gratidão aos guerreiros da vida concursal, desde os amigos de
faculdade, os colegas de EMERJ, e os camaradas que estavam sempre na Biblioteca
da UNIFESO – onde frequentava e estudava nos tempos que precederam minha
aprovação - e que também estavam juntos nas viagens e concursos por esse Brasil
afora, tornando mais aprazíveis os difíceis dias que a vida do concurso nos
reserva.
Claro, não posso deixar de
lembrar dos grandes mestres que muito me influenciaram, cujos ensinamentos levo
comigo como um tesouro guardado a sete chaves.
Hoje, olho para trás, e vejo que
todo o esforço valeu a pena. Parafraseando o grande Poeta Fernando Pessoa:
“(...) pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo!”. Por
outro lado, olho adiante, e percebo que ainda há muito a percorrer, e mais
ainda a construir. Os desafios e a responsabilidade que a carreira Ministerial
impõem, arrefece a vaidade, e dimensiona o importante papel de transformação da
realidade social que ser Parquet proporciona a mim e a todos os colegas que
integram os quadros dessa importante Instituição! Peço a Deus que me agracie
com a fonte da sabedoria, de modo que a minha atuação profissional seja, ao
menos, um vislumbre de esperança de dias melhores àqueles que tanto necessitam
da promoção e realização da justiça social.
Hoje tenho a absoluta convicção
de que estou onde deveria estar. Ser Membro do Ministério Público significa a
minha realização profissional. O exercício da missão constitucional que nos é
conferida é bastante árdua. São muitas as atribuições que nos cercam, as quais
exigem um constante aprimoramento teórico, sem embargo da necessidade de se ter
a adequada sensibilidade para lidar com as mazelas sociais que nos afligem cotidianamente.
Ademais, é necessário também ter a firmeza e a coragem para ser a voz da sociedade
na incessante luta contra a criminalidade e a corrupção, além de personificar a
posição de fiador das futuras gerações na busca perene pela preservação do meio
ambiente, dentre tantas outras atribuições que fazem do Parquet uma das
Instituições mais respeitadas pela sociedade Brasileira.
Enfim, esse é um pequeno resumo
da minha caminhada após a conclusão da graduação. Desejo todo o sucesso aos
colegas formandos e estudantes da UNIFESO, e espero que meu breve relato sirva
de estímulo e inspiração àqueles que estão na busca de sua colocação
profissional e realização pessoal.
Estou à disposição. Grande
abraço!!!
Campo Grande, 17/12/2014.
Contato:
eduardo_guedes@mpms.mp.br"